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segunda-feira, 6 de julho de 2009

O Hospital da Cidade

Dez dias após a minha internação os médicos resolveram que eu já estava clinicamente pronta para o tratamento psiquiátrico. Então fui levada para o Bom Viver, e mais uma vez não me internei. Cheguei na clinica completamente debilitada, ainda não falava e tinha uma constante febre que não passava nunca. Coisa que dias depois os médicos vieram descobrir ser uma infecção hospitalar.
Fui mandada de volta para o Hospital da Cidade e passei uma noite massacrante para mim e para todos que me acompanhavam, pois havia recebido alta da semi-itensiva e não podia mais voltar pra lá, tive então que ficar na emergência, numa maca que acabava com minha coluna e com meu acompanhante numa cadeira ao meu lado.
Sim, a parte boa era ter companhia, pois durante todo o tempo na UTI e na Semi-intensiva minhas acompanhantes a noite eram as novelas, que passaram a ser traumáticas para mim, pois em muitos momento a fixão e realidade se confundiam, e as minhas alucinações.
Alta madrugada e finalmente fui transferida para um quarto, o que também me trouxe muito mais conforto, pois tinha sempre alguém comigo. Mas não deixaram de continuar a serem dias infernais, pois durante esse período eu não dormia. Sim foram cinco dias consecutivos sem pregar o olho. Meu corpo já não agüentava mais, minha mente já estava completamente exausta, mas existia um medo enorme de conciliar o sono.
Por conta das alucinações passei a ser medicada na veia com o Audol, que é um anti-alucinogeno. Porém tive uma reação alérgica ao medicamento a qual ocasionou a paralisia do meu corpo. Coisa que só depois o psiquiatra veio descobrir. Era deprimente não conseguir engolir a saliva, não falar nem me mover. Durante muitos dias babava o tempo inteiro e tinha que ter alguém ao meu lado com uma toalhinha me secando. Isso era horrível e ainda hoje sempre que alguém passa um lenço no meu rosto me vem à sensação daqueles dias.
Foi uma luta constante dos fisioterapeutas para que eu voltasse a me movimentar. A minha família e meu querido namorado me forçavam a deitar e levantar sozinha, a mastigar o alimento e a falar. No início tive até raiva deles por me forçarem a isso, pois era muito sofrido solicitar ajuda para levantar e ouvir: “Ninguém vai te ajudar levante sozinha.” Ou então “Ninguém vai mais tentar adivinhar o que você quer peça, fale.” Isso me fazia chorar muito, odiava eles pelo que estavam fazendo e Deus por não ter me deixado morrer.
Não tenho como descrever a felicidade deles quando após dias de tentativa o som a minha voz rompeu a barreira do silêncio. Fiquei mais feliz por eles que por mim.
Finalmente com a melhora da infecção, que era causada por um acesso costurado no meu ombro. Cicatriz que trago comigo até os dias de hoje, que me incomodava nos primeiros dias ao me olhar no espelho, mas que hoje se transformou numa marca da minha superação. E com o retorno da voz e movimentos pude de fato receber alta.
Numa altura dessas, o que mais queria era voltar pra casa, pra minha cama, pra minha vida. Mas ainda era necessário o tratamento psiquiátrico. E pela terceira vez me vi na sala de espera do Bom Viver.
Além da cicatriz no ombro, trago outras cicatrizes físicas oriundas de outras tentativas que retratarei em breve, porém mais marcantes que essas são as cicatrizes emocionais e espirituais. Com a graça de Deus todas elas se tornaram marcas de SUPERAÇÃO.
Se estou curada? Não, ainda não consigo agradecer por mais um dia de vida, mas já consigo planejar e vislumbrar sem dor mais um dia de vida.
A cada final de dia agradeço a Deus por ter conseguido viver mais um dia sem pensar em morrer. E busco cuidar dos ambientes em que vivo para ficar sempre bem.
OBRIGADA SENHOR POR TER TERMINADO O DIA DE HOJE SEM QUERER MORRER.

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